INVASÕES

Estou certo que serei alvo de muitas críticas, mas não poderia me calar diante de tudo que ocorre, mesmo estando entre a cruz e a espada.

Quando soube da manifestação que culminou em “invasão”, já era tarde. Tudo já havia acontecido. Restava-me somente aguardar o encerramento ou uma possível e repentina convocação. Ainda me pergunto, por que companheiros trancaram-se no Casarão Vermelho para não ouvir as lamentações e desejos daqueles que contribuem com sangue, suor e lágrimas na construção da imagem da instituição que é hoje.

“INVASÃO – ato de invadir” – “INVADIR 1. entrar à força ou hostilmente em: No século V, os Bárbaros invadiram o Império Romano. 2. Difundir-se, espalhar-se ... 3. tomar, dominar: De repente a saudade o invadiu, e sentiu-se só.” Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.

Como poderei classificar os nobres bombeiros, como bárbaros, talvez "vândalos”, ou filhos carentes que voltam a sua casa em busca de proteção em uma noite que a chuva e frio castigava a cidade, já que seus gritos de socorro foram abafados ao som de buzinas e ronco de motores.

Ainda me pergunto, por que eu assisti pela TV o maior conflito, a décadas, ocorrido no Brasil? Centenas de homens armados de fuzis, pistolas, armadura de kevlar, além de granadas e uma infinidade de armas de baixa letalidade. Do outro lado 439 homens, e suas esposas com filhos, munidos de jatos d’água. Como na canção “mas a vontade de vencer, deu-nos força pra valer...”. Contudo, ficaria somente na vontade.

Mas como a liberdade é um direito natural do homem os 439 resistiram, o quanto podiam, mas a força era muito superior a resistência. E revendo trechos da saga do Cap Nascimento, o Batalhão desde a década de 90, é a principal ferramenta opressora dos governos fluminenses, destaco o trecho: “nenhum governador quer ver Sua Santidade com um tiro de fuzil no meio da testa”.

Empregar a melhor tropa de combate urbano do mundo contra guarda-vidas que lutam contra o mar, o frio, o sol forte e as praias completamente lotadas. É óbvio que o BOPE não iria recuar, um dos seus mandamentos é a disciplina. Os governadores sabem disso, e usam isso muito antes da criação da Gratificação de Serviço Diferenciado.

Ainda vestindo a farda negra, aprendi que a negociação somente é interrompida por iniciativa única e exclusiva do amotinado em não negociar. Ou quando agem contra a integridade física dos reféns, neste momento é justificado o emprego do Grupo Tático que tecnicamente é a última e possível resposta do Estado na solução de um conflito. No momento de uma invasão, o grupo tático inicia a ação acreditando que todas as formas de solução foram inertes e que a ele, o grupo, cabe resolver. Por isso, concluo que foi intempestivo, aquele que determinou a invasão. Sabemos que o Comando da PMERJ agiu como mandatário, como força legalmente constituída, indicou o melhor dos seus especialistas para gerir o grupo de assalto, como apareceu nas diversas imagens divulgadas.

Enfim, as chances de dar errado eram enormes, mas felizmente ninguém foi atingido por armas letais. Os excessos sem dúvida alguma devem ser veementemente punidos, mas o erro foi cometido muito antes do início das manifestações.

LUIS OTAVIO MOURA GASPAR

TEN CEL BM – GUARDA-VIDAS - MONTANHISTA - CAVEIRA 117

Um comentário:

  1. Grande Instrutor,
    confesso que esperei ansiosamente ouvir sua opinião a respeito do ocorrido dada a legitimidade e conhecimento de causa que o Sr tem das ações desenvolvidas tanto pelos Guarda-Vidas e Bombeiros em geral, quanto dos caveiras, aliás único em nossa Corporação que tem legitimidade para tratar desse assunto específico!Se o Sr me permitir, deixo aqui registradas minhas impressões sobre seu texto, onde não discordo do sentido que ele caminha...os equívocos são muito anteriores à invasão e aos atos repressivos...a omissão, a "vista grossa", o descaso e até ter sido subestimado o potencial de mobilização dos bombeiros fez culminar nesses tristes dias que temos vivido!Não alcanço os reais motivos que fazem pessoas inteligentes e conhecedoras de causa calarem-se e omitirem-se diante de tantos e tão claros apelos...sei que hoje, existe uma autoridade tentando se impor como tal a fim de mediar essa crise sem precedentes...tarefa muito difícil, não tenho dúvida, mas com as ferramentas necessárias e com a soma de nosso esforços, acredito que toda essa história possa ter um desfecho positivo pra todos...os homens que estão se reunindo cada vez mais permanecem ávidos por liderança, na reconstrução de suas dignidades...e esses próximos capítulos não precisam e não podem ser apenas assistidos ou lidos de longe...contamos com dias melhores e que a ordem se restabelaça o mais brevemente possível!Minha continência e respeito e um grande abraço...1º Ten BM Alessandro - GUarda-Vidas

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